Inovação e Bem-Estar Laboral
26/02/2020

A aposta na digitalização e automação de sistemas, os principais desafios e oportunidades, os planos presentes e a ambição futura foram alguns dos temas abordados por Paulo Gaspar, administrador do Grupo Lusiaves, que, em entrevista à Lusinews, traça a atualidade da empresa no que diz respeito à inovação. Uma aposta que visa potenciar o que de melhor o capital humano pode aportar às empresas no competitivo mundo moderno dos negócios.

 

O Grupo Lusiaves tem-se destacado, nos últimos anos, pela aposta na digitalização e automação de sistemas. Quais os principais projetos que têm vindo a ser desenvolvidos e com que objetivo? 

O objetivo global da estratégia de IT do Grupo Lusiaves tem estado assente na uniformização de sistemas, para conseguirmos trazer a melhor experiência de trabalho aos nossos colaboradores. De tal forma, que a missão da equipa de inovação e tecnologia é “to make our people better with technology”. Quando falamos de “our people”, em primeiro lugar, vêm os nossos colaboradores e, depois, os clientes. Para conseguirmos fazer um bom trabalho e entregar os melhores produtos e serviços aos nossos clientes, temos de ter colaboradores felizes, munidos das melhores ferramentas. 

 

Para concretizarmos essa missão, entendemos que era essencial termos uma experiência de trabalho unificada, ou seja, diferentes sistemas para cada uma das áreas de negócio e departamentos, que seguem, todos eles, a mesma forma de trabalhar. Temos apostado muito na implementação de diferentes sistemas, cada um muito focado em ser o melhor do mundo em determinada tarefa, que estão todos juntos, através de um tecido de integração único, para que tudo possa facilmente fluir entre eles, permitindo que a informação esteja permanentemente atualizada. 

 

Ao longo dos anos, temos vindo a desenvolver vários projetos neste sentido. O primeiro foi a implementação de uma plataforma de Business Intelligence, que fosse buscar a informação às diferentes bases de dados para poder ser canalizada numa base única e se poder construir visualizações, dashboards KPIs

 

O segundo projeto procurou olhar para o que são os sistemas core de qualquer empresa. Apurámos que, nas 30 empresas do Grupo, tínhamos 30 ERPs diferentes, o que fazia com que não houvesse processos unificados. O desafio foi migrar os 30 softwares diferentes para um único, que conseguisse unificar os processos financeiros, contabilísticos, de compras, de vendas, etc., para termos uma visão global de como funcionamos. Esse processo culminou na escolha de um software da SAP. Uma de cada vez, esse software está a ser implementado em todas as empresas do Grupo. 

 

Em paralelo com este grande projeto, verdadeiramente transformacional para o Grupo, decidimos apostar numa plataforma de integração universal para o Grupo Lusiaves, fundamental para a implementação do ERP comum e para a automatização de todos os processos. 

 

Quais os principais desafios enfrentados, ao nível do desenvolvimento tecnológico, considerando que o Grupo está em toda a fileira avícola, da plantação de milho ao consumidor final? 

Desde o início, quando estávamos a formular a estratégia para alcançar o objetivo de proporcionar uma melhor experiência de trabalho para os colaboradores, havia dois grandes caminhos que podíamos seguir. O mais fácil, e talvez aquele que é seguido pela maioria das empresas, seria encontrar um software que fizesse tudo e permitisse configurar e ajustar alguns aspetos específicos do negócio. Ou, o segundo caminho, e o que optámos por percorrer, que é escolher o melhor software para cada uma das áreas, com um âmbito mais focado, e depois integrar tudo. Foi por isso que foi tão importante a implementação de uma plataforma de integração, para pôr todos os sistemas a falar uns com os outros. 

 

Uma das razões pelas quais a maioria das empresas opta pelo primeiro caminho é a dificuldade da integração. Os fornecedores de software usam o argumento de que os módulos comunicam todos uns com os outros, mas a realidade do Grupo Lusiaves é muito complexa. É uma complexidade que vem das diferentes áreas de negócio, começando na produção de milho, que é completamente diferente da produção de ração, da incubação, do abate, da distribuição, da logística, etc. São operações completamente distintas, que em quase nada se colam umas às outras. Um software que consiga ser bom para todas estas áreas de negócio não existe. A existir, é de tal maneira genérico que não será bom para nenhuma e a experiência de trabalho não seria boa. 

 

Qual foi a estratégia seguida? 

A estratégia foi encontrar um software para todos os processos core, que são essencialmente iguais em todas as empresas (como, por exemplo, a parte financeira, a contabilidade e as compras), escolher o melhor para cada uma das áreas operacionais e integrá-los.

 

Nesta viagem, há muitos desafios: conseguir encontrar as melhores soluções, contratá-las e adjudicá-las. Quando vamos à procura do melhor do mundo, muitas vezes, não existe em Portugal. Temos que ser inovadores a implementar alguns desses softwares que não têm representação no país e não existe, ainda, qualquer implementação onde nos possamos inspirar. Temos de ser os primeiros e arriscar. Fizemos isso em alguns casos. 

Outro dos desafios, que tivemos de ultrapassar caso a caso, é que, quando se muda o software, os processos de trabalho também mudam. Sejam muitas ou poucas pessoas, é sempre difícil de se fazer. Ainda mais quando, no Grupo, temos pessoas que trabalham connosco há 30 anos. 

 

Esta é uma das razões pelas quais a formação tem sido uma das grandes apostas e porque optámos pelo desenvolvimento do nosso próprio software. O que acarretou novos desafios: como desenvolver esse software de qualidade, intuitivo, escalável para as diferentes operações, que seja fácil de manter para o futuro, sem uma equipa gigante dedicada à sua manutenção? É aqui que entra a investigação que temos feito nos últimos anos, para garantir que apostamos nas tecnologias certas, que contratamos as pessoas certas. Com um mercado tão pressionado, como o das tecnologias da informação, pela falta de talento, a atração desse mesmo talento para Leiria é também um desafio.

 

As empresas do grupo são hoje, claramente, mais eficientes graças à aposta na tecnologia? 

Claramente que são. Mas há que ter consciência que raramente se obtém o benefício deste tipo de investimentos no imediato. O retorno vem aos poucos e poucos. Aqui, não foi muito diferente. Quando implementamos software, automatizamos processos e mudamos a forma como as pessoas fazem as coisas, muitos dos benefícios não veem logo.

 

E há, até, casos em que as coisas, em vez de melhorarem, pioram, porque estão dependentes de outros processos que, ainda, não foram automatizados. Estamos também nesta fase, em que temos alguns investimentos já feitos, algumas empresas já estão apoiadas por sistemas de informação estruturados, mas as pessoas, no dia-a-dia, em vez de notarem melhorias, encontram dificuldades. É normal. Há uma fase de adaptação da organização a todos os novos processos, de aprendizagem com os novos softwares, para poderem vir a ser eficientes a trabalhar com os mesmos. 

 

Ao mesmo tempo, sempre que implementamos um novo software, pode não conseguir cobrir 100% dos processos de forma mais automatizada. Às vezes, aqueles 10% que ficam para uma segunda fase de implementação criam uma entropia até aí inexistente, apesar de passarmos a ter um nível de rigor que não possuíamos.

 

O conforto dos vossos colaboradores é uma matéria para a qual estão particularmente sensíveis. Que ganhos veio a tecnologia também permitir a este nível? 

Acima de tudo, veio evitar trabalhos redundantes. Se um colaborador é mais produtivo, se aquele trabalho repetitivo deixa de ter de ser feito por si, porque o software automatiza essas tarefas, passa a estar disponível para trabalhos de valor acrescentado. 

 

Outro ganho relevante é a consistência dos dados. Numa era em que a informação tem uma importância tão grande, a sua coerência é cada vez mais relevante. Com estes sistemas, conseguimos garantir isso. Conseguimos saber a viagem completa de um determinado produto, de uma fatura, de uma venda. 

 

Por outro lado, do ponto de vista da segurança alimentar, temos um ainda maior controlo e rastreabilidade. Facilmente, acedemos a todo o histórico da cadeia de valor. Sabemos, relativamente ao frango que temos à nossa frente, “o milho consumido pelo seu avô”. 

 

A digitalização traduziu-se também em ganhos ao nível das vendas? De que modo a incorporação de cada vez mais informação e inteligência veio facilitar o trabalho da área comercial? 

Veio facilitar muito. Por exemplo, no projeto que já referi da plataforma de Business Intelligence, um dos primeiros subprojetos do mesmo foi a criação de dashboards individuais para cada vendedor. Cada comercial pôde começar a acompanhar, em tempo real, o seu desempenho e saber em que lugar está no ranking, como está em termos de vendas face ao mesmo período do ano anterior e ao objetivo do ano, os KPIs principais, entre outros. É um conjunto de informação que lhes permite uma maior organização e estarem mais focados no dia-a-dia. Para além de que há um conjunto de tarefas que conseguem desempenhar remotamente de um modo muito fácil. 

 

Não obstante, ainda há um caminho a percorrer. Temos um roadmap de novas funcionalidades para facilitar a vida dos nossos comerciais que, acredito, irão traduzir-se em novos aumentos de vendas. 

 

Que novos modelos de negócio podem ser, ou estão a ser, desenvolvidos graças à tecnologia? 

À medida que continuamos a investir em nova tecnologia e no desenvolvimento da mesma internamente, há-de chegar o ponto em que entendemos que o que serve para nós também serve para um conjunto de outras empresas. Porque não fazer spin-offs dos nossos desenvolvimentos, vendê-los a outros e criar uma nova área de negócio?  Temos, também, toda a parte de e-commerce, onde começamos a dar os primeiros passos. Estamos a explorar o chamado direct to consumer em várias áreas de negócio. 

 

Por tudo isto, pode-se dizer que a Lusiaves é, no fundo, uma empresa de tecnologia que, por acaso, também vende frangos? 

Ainda não. Maioritariamente, ainda somos uma empresa da agroindústria, focada na produção de alimentos de maior qualidade para os seus consumidores. Mas poderá chegar a altura em que a tecnologia que temos vindo a desenvolver para melhorar os nossos processos, para a qualidade dos nossos produtos ser a melhor e a rastreabilidade não falhar um milímetro, ser de tal maneira valiosa para outras empresas que faça sentido ser uma outra área de negócio.

 

 

 

 
 
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